05/02/2005

A nossa Alma

VIRIATO…

Foi nesta região das Beiras do Portugal interior, arcaico e profundo, outrora, parte integrante e directa da antiga Lusitânia, foi muito particularmente nesta histórica, progressiva e acolhedora cidade de Viseu, que ficaram plasmadas, para sempre, na memória e no imaginário do nosso Povo, as passadas destemidas, os gestos fortes e a alma tutelar do Grande Viriato («Viaraço»), mítico herói consagrador da ideia de “Lusitanidade” («Libertador da antiga Lusitânia»1; «o meu nome de ibero é Viriato»2), senhor de um invulgar autodomínio e frugalidade e de um desprendido despojamento dos bens terrenos, dotado de rara destreza, valentia e sagacidade («muy ligeyro, muy valente e muy ardido»3) e de um apurado e quase sacral sentido demótico da escuta e da justiça e de um incarcerável impulso para a liberdade e a independência4, de uma indomável capacidade de sofrer, resistir e lutar contra o poder imperial de Roma («o Pastor […], cuja fama ninguém virá que dome, / Pois a grande de Roma não se atreve»5; «destro na lança mais que no cajado / […] vencedor invencíbil, afamado»5; «desperto nunca foi vencido»6), em suma, incomparável protagonista da ousada assunção de uma identidade cultural e de um destino colectivo a cumprir («Podemos vir a ser amigos de Roma; mas temos o direito de não querer ser Romanos!»7)… Por isso é que, nas próprias muralhas de granito desta secular cidade-fortaleza, bem pode captar-se a fundura, telúrica, vital e antrópica, de um autonómico e universalista sentido épico, inspirador e arquitector da história de cada um dos Povos que integram a nossa planetária Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): no sangue e na alma das nossas gentes, desde as suas raízes e abismos seminais, circula, incontornável, o “ADN arquetípico” de Viriato: no Ipiranga, em Luanda, no Maputo ou em Baucau, como nos Montes Hermínios… Aqui, poderemos todos partilhar, na mesma “pátria da língua”, a procura de um renovado e global alento, através da redescoberta dos fluxos míticos primigénios e dos tonificantes afectos, energias e sinergias, indispensáveis à realização de sonhos e projectos, indispensáveis à poética instauração de esperanças e utopias…

Fernando Paulo Baptista

(1) Garrett, poema “A Caverna de Viriatho”, Flores sem Fruto in Lírica Completa, Lisboa, Arcádia, 1963, 270-279. (2) Miguel Torga, Poesia Completa, Lisboa, Dom Quixote, 707-708. (3) Cf. Crónica Geral de Espanha de 1344, II, 100. (4) Mauricio Pastor Muñoz, Viriato — A Luta pela Liberdade, Lisboa, Ésquilo, 2003, 86-92. (5) Camões, Os Lusíadas, III, 22; VIII, 6. (6) Brás Garcia de Mascarenhas, Viriato Trágico, I, 1: cf. http://www.ipn.pt/literatura/mascare.htm. (7) Diogo Freitas do Amaral, Viriato, Lisboa, Bertrand, 60.

Daqui te observo!...

2 comentários:

Anónimo disse...

Em verdade, Viriato não terá existido.
Em seu lugar havia uma espécie de tribo que se chamava Viriatus.
Abraços

Anónimo disse...

Errado "Viriatos" terá havido muitos.
E mesmo que tive sido só uma ideia...
As ideias são a coisa mais difícil, impossível de vencer!