“Os fados porque tem passado o nosso monumento da Cava, tem-lhe sido pouco favoraveis. D’antigas Memorias sabemos que em 18 de abril de 1461 o cabido da Sé de Vizeu tomára posse da Cava de Viriato em terras que até áquelle tempo erão de Reguengo. Achava-se então com portas que se abrião e fechavão, como fosse necessário, e dentro havia huma capela do titulo de S. Jorge.”
“Uma ordem regia do anno de 1728 mandou que a Cava de Viriato fosse medida e apêgada. Achou-se que ainda então os muros, ou aterros, tinhão trez lanças d’altura com 40 palmos de largura no cimo. He provável que na sua origem rematassem em cavallete, pelo que já advertimos.”
“Segundo o auctor do Elucidário a lança era huma medida agrária, que constava de 25 palmos craveiros.”
“Os muros derão um circuito de 3:065 passos andantes, apresentando quatro grandes aberturas, que tiverão cantaria com portas; obra dos mesmos romanos. Existia somente o vão dos portaes, porque a pedra, como refere Fr. Manoel da Esperança, fôra tirada para a edificação do convento de S. Francisco d’Orgens; o que alguns affirmão ter sido por provizão de D. Afonso V. Entre tanto podemos assegurar que no cartório daquelle extincto convento não existia este documento.”
“A camara municipal, em Junho de 1818, a instancias do general da província, António Marcellino Victoria, mandou levantar marcos pelo circuito interno e externo dos muros da Cava; porem esta providencia baldou-se, porque já dantes os lados orientais, equados ao solo, se achavão alienados em aforamento; e os restantes continuarão , sem embargo, a ser acommetidos pelas cerceaduras e escavações dos possuidores das glebas contiguas. Finalmente este monumento veneravel parece que se vai despedindo da geração actual, e a seguinte por certo que não tardará a derrear-lhe o dorso por essas planicies. Saudemol-o pois!... já que os homens da governança não querem intender nestas archeologias, e os cobiçosos visinhos vão cavando para si.”
A Cava na actualidade
Não sabemos quando nem por quem foi feita a Cava – e muito provavelmente foi um dos Campos de César ou Castra Hiberna dos romanos, fundada por estes e não pelo antigos habitantes da Lusitania, pois era uma fortificação muito importante, muito luxuosa para aquelles tempos.
Ella hoje apenas tem muros – grandes marachões – de terra, mas já teve portas, seteiras e revestimento parcial ou total de boa pedra. D’ali foi muita para o convento d’Orgens, em virtude do alvará de D. Affonso V, apontado supra, com data de 1460, mas ainda em 1630 a 1636 o dr. Botelho descrevendo-a dizia como testemunha ocular o seguinte: “A opinião de ser real de Nigidio fica bem refutada com a vista d’este edifício, que alem de ser huma cousa tão grande, e forte, neste mesmo muro de pedra (onde já entramos) que não foi feito ao acaso, nem para uma defesa momentanea… (…)
Com o decorrer do tempo tem sofrido muito e já não é a sombra do que foi. Perdeu todo, absolutamente todo o seu revestimento de pedra; dos largos fossos que a circuitavam apenas resta um pequeno lanço; os seus muros são hoje apenas marachões de terra, mas ainda assim marachões grandiosos, imponentes, que despertam a atenção dos forasteiros, como já nos succedeu, quando nos abeirámos delles em 1862.
José de Oliveira Berardo, citado e Pedro Augusto Ferreira In, PORTUGAL ANTIGO E MODERNO, DICCIONÁRIO de Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, continuado por Pedro Augusto Ferreira, Bacharel em Theologia pela Universidade de Coimbra, cavalleiro da ordem da Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, socio effectivo da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portugueses, socio fundador da Sociedade de Instrucção do Porto e abbade de Miragaya na mesma cidade.
Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 5 - Largo de Camões – 6, 1890.
Enviado pelo AJ
“Uma ordem regia do anno de 1728 mandou que a Cava de Viriato fosse medida e apêgada. Achou-se que ainda então os muros, ou aterros, tinhão trez lanças d’altura com 40 palmos de largura no cimo. He provável que na sua origem rematassem em cavallete, pelo que já advertimos.”
“Segundo o auctor do Elucidário a lança era huma medida agrária, que constava de 25 palmos craveiros.”
“Os muros derão um circuito de 3:065 passos andantes, apresentando quatro grandes aberturas, que tiverão cantaria com portas; obra dos mesmos romanos. Existia somente o vão dos portaes, porque a pedra, como refere Fr. Manoel da Esperança, fôra tirada para a edificação do convento de S. Francisco d’Orgens; o que alguns affirmão ter sido por provizão de D. Afonso V. Entre tanto podemos assegurar que no cartório daquelle extincto convento não existia este documento.”
“A camara municipal, em Junho de 1818, a instancias do general da província, António Marcellino Victoria, mandou levantar marcos pelo circuito interno e externo dos muros da Cava; porem esta providencia baldou-se, porque já dantes os lados orientais, equados ao solo, se achavão alienados em aforamento; e os restantes continuarão , sem embargo, a ser acommetidos pelas cerceaduras e escavações dos possuidores das glebas contiguas. Finalmente este monumento veneravel parece que se vai despedindo da geração actual, e a seguinte por certo que não tardará a derrear-lhe o dorso por essas planicies. Saudemol-o pois!... já que os homens da governança não querem intender nestas archeologias, e os cobiçosos visinhos vão cavando para si.”
A Cava na actualidade
Não sabemos quando nem por quem foi feita a Cava – e muito provavelmente foi um dos Campos de César ou Castra Hiberna dos romanos, fundada por estes e não pelo antigos habitantes da Lusitania, pois era uma fortificação muito importante, muito luxuosa para aquelles tempos.
Ella hoje apenas tem muros – grandes marachões – de terra, mas já teve portas, seteiras e revestimento parcial ou total de boa pedra. D’ali foi muita para o convento d’Orgens, em virtude do alvará de D. Affonso V, apontado supra, com data de 1460, mas ainda em 1630 a 1636 o dr. Botelho descrevendo-a dizia como testemunha ocular o seguinte: “A opinião de ser real de Nigidio fica bem refutada com a vista d’este edifício, que alem de ser huma cousa tão grande, e forte, neste mesmo muro de pedra (onde já entramos) que não foi feito ao acaso, nem para uma defesa momentanea… (…)
Com o decorrer do tempo tem sofrido muito e já não é a sombra do que foi. Perdeu todo, absolutamente todo o seu revestimento de pedra; dos largos fossos que a circuitavam apenas resta um pequeno lanço; os seus muros são hoje apenas marachões de terra, mas ainda assim marachões grandiosos, imponentes, que despertam a atenção dos forasteiros, como já nos succedeu, quando nos abeirámos delles em 1862.
José de Oliveira Berardo, citado e Pedro Augusto Ferreira In, PORTUGAL ANTIGO E MODERNO, DICCIONÁRIO de Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, continuado por Pedro Augusto Ferreira, Bacharel em Theologia pela Universidade de Coimbra, cavalleiro da ordem da Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, socio effectivo da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portugueses, socio fundador da Sociedade de Instrucção do Porto e abbade de Miragaya na mesma cidade.
Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 5 - Largo de Camões – 6, 1890.
Enviado pelo AJ
Sem comentários:
Enviar um comentário